Olá amigos, quanto tempo, não é? O tema de hoje é sobre a trilogia de Batman do Christopher Nolan, portanto essa postagem contém diálogos e trechos do filme, então se você não assistiu e não gosta de spoilers não recomendo ler esse texto. Porém se você viu e gostou, leia e dê a sua opinião.
Que o
cavaleiro das trevas está entre os heróis mais admirados no mundo do entretenimento, ninguém tem dúvidas, porém a trilogia de Christopher Nolan traz
muito mais que um simples combate entre o bem e o mal num filme de ação. Além
da incrível arte e elenco dos filmes, o diretor impulsiona questões profundas
em seu roteiro sobre o desenvolvimento humano, a moral e a ética do próprio
Batman.
A
princípio, em Batman Begins, Nolan introduz a questão do medo no
desenvolvimento humano psicológico do ainda menino, Bruce Wayne. Se você se
recorda meu caro leitor, Bruce cria um medo terrível de morcegos após cair em
uma caverna em seu próprio quintal. E com isso, o diretor já começa a trazer
reflexões nos diálogos do filme. Ao identificar o trauma da criança, o Senhor
Wayne o leva a refletir com a seguinte questão: “Sabe por que caímos?” A
resposta é simples, “Para aprendermos a levantar”.
Em
sequência, o garoto se depara com talvez a maior dificuldade da sua vida até
então, enfrentar a dor da perda prematura dos pais, porém é através dessa
grande dor que futuramente ele se tornará mais que um herói, um humano, o maior
justiceiro de todos os tempos. O menino herdeiro
de quase toda a cidade de Gotham é forçado pela própria vida a crescer, a lidar
com seus traumas e medos, pois toda a riqueza e dinheiro que herdou, não podem
comprar a vida de seus familiares, nem mesmo lhe trazer a paz de que necessita, não
supre o vazio que tem por dentro.
Bruce
cresce e vai amadurecendo aos poucos quando se dispõe a mudar, a enfrentar seus
medos e curar a sua dor. Ele passa por um treinamento físico e também mental e
é através disso que ele se desperta para a “vida”, ou seja, descobre o que realmente
quer fazer da sua existência. Ele entende que só vai superar sua dor e trazer
um legado de justiça para a memória de seus pais e para si mesmo se ajudar a
fazer de Gotham uma cidade melhor. Bruce se torna o cavaleiro das trevas,
começa então a sua luta contra o crime.
Veja
meu caro tripulante, que até então Nolan traz para o filme um ser humano comum,
apesar de muito rico, Bruce tem seus problemas psicológicos e sofre como
qualquer outra pessoa, além disso, diferentemente de outros filmes de heróis,
nesse não há elementos sobrenaturais. Batman é um ser humano aprendendo consigo
mesmo a ser melhor, a se superar, e isso faz com que o telespectador se
identifique totalmente com o homem morcego.
Há
explicações racionais e emocionais para toda a trama, o que nos faz acreditar e
confiar no Batman, até seu símbolo de morcego tem uma razão, no caso, seu maior
medo. Christian Bale traz ao personagem muito mistério, muita angústia e também
uma postura de galã bilionário, tudo ao mesmo tempo.
Ao
buscar por justiça, Batman começa enfrentar outras dificuldades no seu próprio
desenvolvimento pessoal e também social. Agora, vidas de inocentes estão em
jogo, inicia-se então a reflexão ética e moral do filme. O cavaleiro começa a se questionar o que
seria certo e errado, ou moralmente correto. Questões como matar ou não por
justiça são introduzidas ao público. Até que ponto ele pode chegar para salvar
a cidade de criminosos? Infringir ou não as leis? O que é correto ou não a se
fazer?
Ainda
em Batman Begins, há uma cena que exemplifica a personalidade moral do homem
morcego. Essa é quando Batman encontra seu inimigo Ra’s Al Ghul e tem a chance
de matá-lo, contudo diante disso, o herói reflete e surpreende com a seguinte
frase “Eu
não vou matar você... mas também não tenho nenhuma obrigação de salvá-lo.” É possível
perceber nesse diálogo que Batman segue sua conduta moral, mas não se obriga a
seguir a ética da sociedade. Às vezes, é preciso descumprir algumas regras e
leis para o bem vigorar e é por isso, que o cavaleiro das trevas é amado e
odiado ao mesmo tempo.
Posteriormente,
em Batman o cavaleiro das trevas, a questão filosófica do bem contra o mal é
mais explorada, isso porque a fama de Batman e seus feitos se espalham, atraindo
com isso, inimigos para si, um deles é o coringa, o qual se auto intitula um
agente do caos.
Analisando
no contexto filosófico, identificamos aqui a visão de Platão de bem e mal, em
que Batman é um agente do bem, e isso é o que aproxima o ser da verdade, já o
coringa seria o não ser, a ausência do bem. Entretanto, nessa vertente, o mal
só existe devido à própria existência do bem, ou seja, os opostos se atraem. Assim, Batman começa a se questionar sobre
isso, se já não é hora de sua figura de herói “fora da lei” desaparecer e deixar
a sociedade ter seu próprio cavaleiro branco, no caso, alguém sem mascaras e
que use a ética para salvar a cidade. E é com esse contexto que temos um novo “mocinho”,
o promotor público Harvey Dent.
Bruce
reflete sobre a sua vida pessoal e na conduta do Batman para a sociedade. Nolan
traz também romance, a dualidade e a confusão para o herói e para o público,
deveria Bruce aposentar o homem morcego e ser feliz com sua amiga de infância,
Rachel? Ou continuar a defender a cidade por trás de sua máscara? Devemos mesmo
sacrificar nossos sentimentos em prol de um bem maior?
Como se
a confusão toda em sua mente não bastasse, o clima esquenta para Batman e o
coringa começa a agir, provocando o caos por toda a cidade o que leva o
telespectador a refletir nos profundos diálogos do filme. Coringa acredita que
Batman e ele são parecidos, e que a grande diferença entre os dois é que para o palhaço,
o homem morcego segue um sistema e está preso as regras do sistema, enquanto
ele tem a liberdade para ser o que quiser.
O coringa não luta por algo, não tem
uma causa, o que ele pretende é mostrar a sua visão de realidade para Batman.
De acordo com ele, a sociedade não merece clemência e ajuda, pois a moral e
ética é uma piada ruim, o qual as pessoas se esquecem no primeiro sinal de
problema. Nas palavras do próprio coringa para o Batman:
Coringa: “_ Os idiotas da máfia querem você morto para a
cidade voltar ao que era, mas eu sei a verdade, não tem volta! Você mudou tudo
para sempre!”
Batman: “_Então, porque quer me matar”?
Coringa:”_ Eu te matar? Eu não quero matar você! O que eu
faria sem você? Voltar a matar mafiosos? Não, não! Eu preciso de você! Você me completa!
Batman: “_Você é um rato que mata por dinheiro!”
Coringa:"_ Não fale como um policial, você não é um e nem se
quisesse ser! Para eles você é um louco, que nem eu. Precisam de você agora,
mas quando não for útil, te expulsarão como a um leproso! A moral deles; a
honra é uma piada ruim, se esquecem delas ao primeiro sinal de problema. As
pessoas são tão boas quanto o mundo permite, eu vou lhe mostrar. Quando tudo
isso acabar, essas tais pessoas civilizadas vão comer umas as outras. Eu não
sou um monstro, eu só estou na vanguarda. Você tem várias regras e acha que
elas vão salvar você."
Batman”_ Eu só tenho uma regra” (no caso é não matar)
Coringa: “_Então é ela que você vai ter que quebrar pra saber
a verdade!”
Batman:" _Que é?”
Coringa: “_ O único jeito sensato de viver nesse mundo é não
ter regras, e hoje você vai ter que quebrar a sua única regra."
Veja que
o coringa afirma que sua própria existência depende do Batman, por isso, deseja
que o herói se liberte do sistema para se igualar a ele. E é nessas cenas
finais que o coringa mostra para Batman que ele não pode ter controle sobre
tudo, afinal o morcego não consegue salvar a sua amada Rachel, nem mesmo o
promotor Harvey, pois esse se deixa levar pelo ódio e raiva e acaba por virar o
vilão duas caras que no fim morre.
Além de
tudo isso, coringa nos faz refletir na nossa moral e honra como sociedade, como
seres humanos, o que faríamos diante do caos? Seguiríamos as regras, ou lutaríamos
para o nosso próprio sucesso, independente das consequências aos outros? Como
anda nossa conduta moral diante do sistema capitalista vigente?
Apesar
de tentar mexer com o psicológico do Batman, o palhaço não obtém êxito em seu
propósito, pois o herói não quebra sua única regra, ele se matem firme e não
mata ninguém. E, sobretudo, matem a fé e a esperança para com as pessoas. “_Se
um dia você perder a confiança em mim, eu quero que você continue confiando nas
pessoas.”
Há
outros elementos importantes na vida de Batman, como o seu mordomo Alfred, que
na verdade é mais que um empregado, é sua única família, é alguém que sempre
acreditou e teve fé no caráter de Bruce Wayne. Não é atoa que Alfred é o único
herdeiro do homem morcego. Também temos
o comissário Gordon como uma figura importante, ele confia nas atitudes do
cavaleiro, e temos ainda o ilustre Morgan Freeman como Lucius Fox, chefe de
pesquisa e administrador dos empreendimentos Wayne. Percebe-se que até o
cavaleiro das trevas precisa de amigos de confiança para seguir sua vida.
Podemos
concluir que a trilogia de Christopher Nolan é muito mais que uma mega produção
do cinema, é mais que uma obra de arte, traz reflexões, traz aprendizado ao mesmo tempo que entretém.
Por fim,
o que aprendemos com tudo isso? Que qualquer um de nós pode ser um Batman,
contudo ainda assim teremos problemas em nossas vidas, porém é como
resolveremos eles que nos tornará vilão ou herói de nossa própria jornada.
Podemos ser melhores quando conseguirmos encarar nossos medos, quando
aprendermos a cuidar do nosso físico e do mental, quando restauramos a nossa fé
e acreditarmos numa sociedade melhor, quando aprendermos a cultivar amizades
que acreditem em nós e em nosso potencial. Quando percebermos que dinheiro e
fama não supre o vazio que temos por dentro.
Obteremos
êxito na vida quando tivermos foco diante do caos, quando não deixamos o
sistema vigente nos moldar com seus preconceitos e padrões, quando as
dificuldades forem enxergadas como oportunidades de crescermos. O filme nos
mostra que todos nós estamos propensos a erros e a cair, mas é como você se
levanta e o que faz para seguir em frente que determina quem você é. Percebemos,
sobretudo, que o ser humano é muito complexo e está além do bem e do mal e que
fazer o bem é circunstancial e relativo, por isso é necessário autoconhecimento
e se colocar no lugar do próximo em todas as nossas ações, pois só assim
faremos dessa sociedade uma sociedade melhor.
Agora que você já pode ser o Batman, o que está esperando?
Vamos colocar um sorriso nesse rosto?
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